Métricas Ágeis para o Time x Gestão

Quem nunca se sentiu pressionado a gerar e manter métricas exigidas pela gestão mas que o time se sente pressionado, ou não se identifica com o resultado daquela métrica, ou mesmo gerar métricas para o time que a gestão não vê valor.

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Dependendo da maturidade ágil de um time, uma métrica como Vazão (Throuput) pode soar como pressão para aumento de entrega, e não como uma mensuração atual da vazão para melhoria continua. Ao mesmo tempo que você gerar uma métrica de velocidade, pode não gerar para a gestão a informação desejada, mas para o time gera grandes idéias para melhoria na comunicação, identificação de gaps de entendimento de solução, e aumento da cooperação entre os integrantes do time.

Todos sabemos que não devemos medir as pessoas, mas sim os resultados gerados por um time, pois se medimos as pessoas, elas vão trabalhar para atender o que estão sendo medidas. Quem nunca ouviu falar de medir linhas de códigos geradas pelo time, como métrica ? E o time gerando código extenso para ficar com a métrica sempre verde.

Demonstrar evolução do time para os gestores da empresa e traçar metas que demonstrem essas evoluções é uma tarefa árdua, quando o time não se identifica com essas métricas, ou não trabalha em prol de sua melhoria.

Métricas de Times:

Em times com uma certa maturidade ágil, gosto muito de trabalhar com o quarteto de metas Previsibilidade, Velocidade, Qualidade e Felicidade. Pois entendo que são métricas que detalham bem a evolução do time e mostram para os integrantes pontos de melhoria.

Sempre destaco nos times que o objetivo das métricas não é apontar culpados e problemas, mas apresentar um resultado que permita que o time avalie facilmente, se conheça melhor e proponha melhorias.

Previsibilidade

Percentual de ítens comprometidos em uma sprint, que foram entregues. Ele mede o quão bem podemos prever o que podemos realizar em uma sprint. Quanto maior o percentual de previsibilidade melhor. Ao avaliar essa métrica, o time avalia se está se comprometendo pouco ou demais em uma sprint. Entregar tudo nem sempre é um bom resultado, demonstra uma falta de comprometimento, ou talvez um medo do time em experimentar novas soluções, o que sempre gera um propósito e apropriação maior da solução pelo time.

Velocidade

É calcula pela média de StorePoints realizadas por pessoa/dia. Mede os pontos da história fechados em comparação com o número de pessoas dia em um sprint. Quanto mais alto é o numero melhor. Essa métrica demonstra se o time está trabalhando cooperativamente para as entregas. Quando os ítens são exclusivos para cada integrante do time, esse indicador mostra essa divergência. Alguns entregam mais rápidos, outros mais lento, o que é normal em um time, mas se todos trabalharem juntos, ajudando uns aos outros, essa métrica tende a subir. Quando o capacity do time é impactado, por uma ausência temporária, também é refletido nessa métrica. Isso faz com que o time reveja os processos e as ações de melhoria continua para prever essas situações e evoluir a velocidade do time. Também demonstra a maturidade do time em estimativas.

Qualidade

É a Taxa de erros por histórias. Mede a combinação de bugs e histórias em uma sprint. Nessa métrica, quanto menor é o resultado, melhor. Se após uma sprint, por exemplo, identificamos que metade do que foi realizado foi tratando erros, possivelmente algumas entregas do passado não foram realizadas com a qualidade desejada. Essa métrica é interessante, pois dá uma visão da vazão de entrega de valor, se não conseguimos entregar novas funcionalidades pois estávamos acertando erros do passado, nossa capacidade de entrega de valor é reduzida. Avaliar processos de validação antigos, critérios de aceite, DoD, DOR, e qualquer processo relacionado a qualidade da entrega é necessário, quando esse esse indicador está alto.

Felicidade

É um indicador simples, gerado pelos integrantes do time, normalmente nas cerimônias de Retrospectiva, que demonstra a média de satisfação/insatisfação do time após uma sprint. Nesse indicador, eu procuro incentivar o time a dar uma nota de 1 a 10 para a Sprint anterior. Em alguns momentos eu sugiro que seja como NPS (Net Promoter Score), como se cada integrante devesse avaliar se ele recomendaria esse time para trabalhar para alguém de sua confiança. Entretanto, em alguns momentos, o time está tão seguro de si que todos dão 10. Nesse momento, vale você fazer o time refletir sobre as outras métricas, se realmente esse é um time 10, porque os outros não são excelentes. Esse indicador normalmente é usado como um termômetro rápido para avaliar a motivação do time após um período de tempo.

Métricas de Gestão:

Throuput e Lead Time, são dois indicadores que a gestão gosta muito, pois demonstra facilmente o impacto da excelência do time para os stakeholders, pois está focado na quantidade e na velocidade que as soluções são entregues. São indicadores de fácil leitura e entendimento. Entretanto são constantemente usados para comparar times, pois como saber se uma vazão está boa e se o lead time está adequado a não ser comparando com os indicadores de outros times ? Isso é um erro, pois indicadores são para a melhoria contínua de um time. O time deve ter autonomia para criar seu próprio processo de estimativa, refinamento de ítens afim de atingir o melhor resultado. Quando se tenta padronizar os resultados para gerar resultados que sejam comparáveis, caímos no mesmo problema de medir pessoas, os times irão desviar o comprometimento com o valor a ser entregue para focar em atingir as métricas ao que são medidos e comparados.

Vazão

É a quantidade de entregas que o seu time consegue realizar ao final de uma sprint. É um indicador muito simples, mas que pode incorrer em alguns erros, caso os ítens tenham tamanhos/complexidades diferentes. Também pode esconder a qualidade de entrega, caso sejam considerados bugs juntamente com as novas funcionalidades entregues. A comparação da vazão entre times, também gera uma competição pela melhor métrica e não o melhor produto/serviço. Quem nunca viu o time quebrando demais as tarefas para aumentar a vazão ?

Lead Time

Esse indicador, demonstra em média, quanto tempo os ítens demoram a ser entregues, desde quando são idealizados. Ou seja, do momento que o cliente tem a idéia de uma funcionalidade até que essa funcionalidade passa a gerar algum valor em ambiente de produção. O objetivo de calcular essa métrica, é gerar um comprometimento de todos os envolvidos no projeto na entrega de valor. Melhorar a priorização, descartar idéias que não geram valor, dar ritmo nos entendimentos e comprometimentos das funcionalidades com maior valor, garantir a entrega em produção com sucesso, entre várias outras atividades, são incentivadas para a redução do Lead Time. Quando bem usado, o Lead Time, e suas divisões (Reaction Time, Cicle Time, Production Time), geram um dos melhores indicadores de gestão, pois envolve todos os interessados do projeto e suas contribuições para a melhoria na entrega de valor contínuo.

Em Resumo

Em resumo, a aplicação eficaz de métricas em equipes ágeis demanda uma compreensão profunda da maturidade tanto do time quanto da gestão. A pressão para atender a determinadas métricas muitas vezes entra em conflito com a identificação e motivação dos membros da equipe. A maturidade ágil desempenha um papel crucial na interpretação apropriada das métricas, transformando-as de simples indicadores de desempenho em ferramentas valiosas para aprimoramento contínuo. Destaco que selecionei algumas métricas que uso, são inúmeras outras disponíveis e úteis. A escolha criteriosa das métricas, como Previsibilidade, Velocidade, Qualidade e Felicidade, deve ser feita considerando o contexto específico de cada equipe e momento. Evitar a armadilha de comparar equipes e focar na utilização das métricas como instrumentos para aprimorar processos, estimativas e qualidade é fundamental. Cada métrica deve ser comprometida tanto pelo time quanto pela gestão, alinhando-se aos objetivos coletivos. Isso cria uma cultura na qual a mensuração se torna um meio para a melhoria coletiva, evitando desvios do compromisso com a entrega de valor em prol da busca por métricas mais favoráveis.